Tive medo de não saber como seria o gosto da vida depois que você se foi. tive medo de não saber mais pra qual direção ir, qual linha do metrô seria a correta pra me levar pra casa, em qual estação eu deveria descer pra me recolocar no sentido que estive antes de você.

eu tive medo de não saber mais como caminhar com as minhas próprias pernas, porque durante muito tempo eu achei que amar alguém era segurá-la pelo colo, quando na verdade é seguir lado a lado, compromissado com o caminho à frente. com você eu não me importei de ser levada, até compreender que ser levada às vezes é se permitir ser apagada. ser levada é se permitir ser esquecida. é se permitir a comodidade. e o que é uma relação senão uma eterna aprendizagem? eu não estava aprendendo a andar por mim.

e olha, vou te dizer que depois de você eu reaprendi a andar sozinha. descobri novos caminhos, que nem sabia que poderiam existir. testei ir a restaurantes que nós nunca cogitamos, sentei na calçada pra chorar, terminei meus artigos da faculdade, me olhei no espelho e gostei do que vi, deixei de me punir por ter escolhido minha estabilidade à nossa relação.

acho que a gente permanece em relações infelizes por medo de não sabermos se o dia seguinte dará conta de preencher. e foi aí que eu tentei tudo que pude. me preencher, me conhecer e criar um ambiente confortável pra mim e pra minha presença. até você desaparecer. até meu vício de você cair no meu completo esquecimento.
às vezes eu ainda erro o caminho, é claro. a perna bambeia. falta ar. mas, puta merda, como é bom caminhar sem você. como é bom se perder nas ruas da cidade e ainda assim se permitir ter coragem pra continuar comigo mesma.

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